fevereiro 22, 2010

Vô João e Vó Joana

Fotografia de: Cristiano Mascaro

A foto que ilustra esse post me fez lembrar demais a casa dos meus avós paternos; o nome da cidade? Echaporã... Um lugarsinho bem pequeno e muito pouco conhecido perto de Assis e Marília aqui no estado de São Paulo.

Eu me lembro das férias em que íamos todos visitar o vô João e a vó Joana!
Éh bem simples assim; "João e Joana" sempre achei tão bonito isso... o João encontrou a Joana , tiveram filhos cuidaram de um pedaço de chão, plantaram, colheram, fizeram todo o possível para encaminhar os filhos na vida.

A vó Joana era uma senhora bem morena baixinha e magrinha, mas só de olhar pra ela a gente podia perceber que não se tratava de uma mulher frágil, muito pelo contrário, tinha um olhar forte, os movimentos firmes, uma voz bem posta que se podia ouvir através dos comodos todos da casa, ela fazia umas das comidas mais cheirosas e saborosas que já provei...

O vô João um senhor branco, alto com os cabelos bem branquinhos, uma voz mansa, um sorriso fácil nos lábios e que gostava de se sentar na varanda e contar histórias de toda a vida e eu adorava ouvir, quando a gente chegava ele corria no açougue pra garantir a carne mais fresquinha, a linguiça de porco feita a poucas horas para a vó Joana preparar no fogão à lenha a comida de que já falei!

A janela de um dos quartos onde a gente ficava dava para uma horta, que eu me lembro bem tinha pés de tomates carregados, couve, alface lisa, alface crespa, cenoura, beterraba, e mais algumas coisas de que agora não me recordo... Cebolinha, salsinha, coentro, manjericão; aliás foi ali que eu tomei gosto pelos cheiros dos temperos na cozinha... Era uma alegria ir pra horta com o vô e meu pai, aliás íamos os três eu e meus dois irmãos, ficávamos entre os canteiros ouvindo o vô João contando as ultimas noticias da família enquanto apanhava o que comer logo mais!

A casa do meu avô ficava num terreno bem grande numa esquina e ele sentia muito orgulho daquele pedaço de chão, era tudo bem simples, bem humilde, a casa era baixa, de madeira eu me lembro dos móveis... um sofá amarelo, uma mesinha de madeira pequena num cantinho com um vasinho de flor, num cantinho da sala entre os vãos da parede de madeira um calendério com um politico da cidade... na cozinha as panelas ficavam penduradas em cima do fogão de lenha, bem no centro da cozinha encostado na parede uma mesa que geralmente tinha apenas duas cadeiras, mas que quando chegava visitas apareciam cadeiras que vinham dos quartos e do quintal...
Os quartos tinham armários e cama de casal.

Os dias em Echaporã eram de uma claridade incrível, eu não me lembro de nenhum dia nublado naquele lugar, sempre tinha um céu azul e um sol brilhando até o fim da tarde... que aliás era um espetáculo a parte, tínhamos uma das vistas mais privilegiadas a casa do vô João ficava próximo a rodovia então víamos a estrada e no horizonte o pôr do sol. Echaporã na lingua tupi-guarani quer dizer: Bela Vista.
Nossos dias eram andar de bicicleta pela cidade, tomar sorvete numa sorveteria de frente pra praça... andávamos praticamente toda a cidade de bicicleta, não que fosse uma tarefa difícil, considerando o tamanho da cidade... mas pra nossa idade era uma aventura e tanto...

Adoro galinha ciscando um gramado e esse meu gosto vem de lá... no quintal tinha um espaço onde a vó Joana criava galinhas... era a maior diversão pegar os ovos das galinhas e ouvir as explicações dela sobre ovo choco e ovo bom pra levar pra casa... a minha pergunta era; como ela sabe em qual não tem pintinho?? rsrsrs

Falei que o vô João gostava de contar história, e eu adorava ouvir as histórias dele... o meu pai é o filho caçula e ele tinha um carinho todo especial por ele, contava das artes, de como era protegido com relação aos irmãos mais velhos, ele também gostava de contar como foi a vida desde de que tinha chegado naquela cidade, quando ainda era um povoado, eu era bem pequena mas de alguma maneira eu sabia que era importante ouvir tudo aquilo. Ouvi e guardei num lugar na minha alma de um jeito que toda a lembrança que eu trago comigo contribui para quem eu sou hoje.

Lembrar das manhãs ensolaradas, das tarde quentes e das noites com o céu cheio de estrelas e um vento que bagunçava todo o meu cabelo... Lembrar dos primos que emprestavam as bicicletas que eu e meus irmãos passávamos o dia pedalando pela cidade, o cheiro da comida da minha avó, da recepção calorosa...

Contando essa história imagino que quem a leia pense que isso já tenha sido há muito tempo atraz... tudo tão precário, uma vida que quase não se vive hoje, mas não, não faz tanto tempo assim, o vô João e a vó Joana já são falecidos, e já tem um tempo que não visito Echaporã, mas é bem provável que se eu fosse pra lá amanhã eu encontraria pouca mudança nessa história toda que acabei de contar, não duvido que tenha mudado em alguns aspectos.
Mas o fato é que Echaporã ainda é uma cidadezinha pequena com pessoas humildes e simples que ainda cultiva o hábito de ter uma horta no quintal e cria galinhas para o prório consumo... Lá não tem hipermercados, nem redes de fast food...

Tem uma música do Chico e do Vinicius que me lembra muito Echaporã;

Gente Humilde

Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece
De repente
Como um desejo de eu viver sem me notar
Igual a tudo, quando eu passo
Num subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem
De algum lugar
Aí me dá uma inveja
Dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar

São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada, escrito em cima
Que é um lar
Pela varanda, flores tristes
E baldias
Como a alegria que não tem
Onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito de eu não ter
Como lutar
E eu que creio*
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

* Bom usei a música mas tomei a liberdade de alterar a letra porque eu creio!!

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