janeiro 07, 2011

"A duração do dia"


Adélia Prado é uma escritora linda
e pra entender isso é só dar uma espiada aqui na 1ª parte dessa entrevista encantadora e aqui a 2ª parte...
Essa senhora elegante se parece muito com as irmãs do meu avô; o jeito de falar os gestos, o tom da fala, talvez isso facilite ainda mais todo o meu encantamento.

A escrivã na cozinha

Adélia Prado

Só Deus pode dar nome à obra completa
— de nossa vida, explico — mas sugiro
Ao meio-dia, um rosal,
implica sol, calor, desejo de esponsais,
a mãe aflita com a festa,
pai orgulhoso de entregar sua filha
a moço tão escovado.
Nome é tão importante
quanto o jeito correto de se apresentar a entrevistas.
Melhor de barba feita e olho vivo,
ainda que por dentro
tenha a alma barbada e olhos de sono.
Sonhei com um forno desperdiçando calor,
eu querendo aproveitá-lo para torrar amendoim
e um pau roliço em brasa.
Explodiria se me obrigassem a caminhar por ele.
Ninguém me tortura, pois desmaio antes.
A beleza transfixa,
as palavras cansam porque não alcançam,
e preciso de muitas para dizer uma só.
Tão grande meu orgulho, parece mais
o de um ser divino em formação.
Neurônios não explicam nada.
Psicólogos só acertam se me ordenam:
Avia-te para sofrer — conselho pra distraídos—,
cristãos já sabem ao nascer
que este vale é de lágrimas.


Texto extraído do livro “A duração do dia", Editora Record – Rio de Janeiro, 2010, pág. 25.

3 comentários:

  1. Eu ja gostava da Adélia Prado e passei a gostar mais ainda :)

    ResponderExcluir
  2. Então... sempre gostei da poesia dela, mas vendo ela falar, fiquei mais apaixonada ainda agora não só pela obra mas pela pessoa, humana, sensivel e cheia da graça daquele que É!!!

    ResponderExcluir
  3. voltei a passar no blog, e fui ver essa entrevista. Salvou meu dia. Obrigada.

    ResponderExcluir